DUAS SURPRESAS


 

 Eis que recebo a visita da querida prima Djanira Fialho, a quem chamo carinhosamente, Dja. Veio me trazer um presente. E que presente! Depois de ler e ouvir seus textos, fiquei encantada, no sentido da magia, mesmo.

 

Em  'Homenagem a um Homem Justo', constatei que o estilo da escritora, em prosa ou em  verso, tem um jeito peculiar de pura leveza, ao celebrar a vida. São leituras que nos trazem alegria, esperança, porque falam de verdadeiras amizades e profunda afeição.

 

Em todas as publicações encontramos fotografias da família. Fotos antigas e recentes que registram as ocasiões festivas, os encontros. Bonito de se ver e de sentir. A memória sendo preservada! Djanira tornou-se uma guardiã, matriarca que cultivou a família como o mais precioso jardim.

 

Soube envelhecer com dignidade e vitalidade, tarefa nada fácil! Em seus livros, os versos e as fotos vão registrando o passar do tempo com serenidade. Sempre com um sorriso largo na face, encontramos a jovem, a mulher, a filha dedicada, a mãe, a esposa e companheira.

 

Eu conhecia a poetisa, autora de 'Congratulações' e 'Contando em versos'. Agora sou apresentada à prosa lendo a homenagem feita ao esposo. Ela traçou um perfil enxuto e verdadeiro. Diria como o matuto: heim...heim... parece até que a gente tá vendo Tacinho.

 

Sempre soube Djanira uma mulher inteligente, com um senso prático aguçado, determinada. Como todos os mortais, vivenciou alegrias e tristezas, todavia, nos seus escritos as dificuldades, mesmo a morte, tudo vem com uma auréola de precioso entendimento, aceitação, e, alegria pela benção da vida. Parece paradoxal, mas não é.

 

Da sua privilegiada memória já tinha me dado conta.  Declamava nas ocasiões festivas poemas inteiros com perfeita entonação e graça, os seus poemas e os de autores diversos. Soube, também, que tempos atrás se aventurou pela novelística, e que por timidez assinava os textos com o codinome criativo: Bibelô Japonês. Isto foi no tempo das novelas de rádio, precisamente na Rádio Tabajara. O mundo dá voltas...

 

A surpresa maior foi ouvir o texto de Djanira Meneses Fialho Moreira, na voz do jornalista Carlos Pereira. Ele recebeu o documento que denominou: valiosa colaboração de uma ouvinte assídua. Gostou muito. Contudo,não respondeu, nem consultou à autora.  Agiu. O arguto jornalista  teve a genial ideia de dividir o texto  'A cidade de João Pessoa nas décadas de 1940 e 1950'  por assunto, e, fez dele as palavras de Djanira durante uma semana inteira, no seu prestigiado programa Crônica da Cidade, na Radio Tabajara.

 

O texto lido toma vida, é uma viagem. Senti saudades de uma época que eu não vivi, mas conhecia por relatos dos meus avós e pais. Creio que a decisão de deixar o Rio de Janeiro para vir morar na Paraíba foi motivada, também, por esta vida pacata que Djanira retirou do tempo e colocou no papel. Narrativa rica em precisão e detalhes. Um registro fiel.

 

Na homenagem que prestou aos 429 da cidade de Nossa Senhora das Neves, Djanira, esta alma delicada e amorosa, desvelou mais um de seus dons. É uma historiadora de mão cheia. Soube reunir o gosto pela literatura, que aliada à memória, produziu um texto que é dever ser lido ou ouvido.

 

Parabéns, ao jornalista Carlos Pereira, que com a sensibilidade que lhe é peculiar, ofereceu aos seus ouvintes, e a todos que ouvirem o CD, um registro precioso que merece ser amplamente divulgado, nas escolas com prioridade.

 

 É dever de o Estado educar o indivíduo para a arte, para a sensibilidade, para a história do seu povo.  Porque é a Memória uma das formas de combater não só a ignorância, mas uma arma para evitar que a juventude, as crianças sejam moldadas unicamente pela matriz. Sei que a película 'Matrix' eles conhecem bem. Fica a advertência.