O Terra

Crônica publicada no Jornal Correio da Paraíba em 03 de abril de 2007.

É isto mesmo! O título foi copiado do livro de crônicas “Deliciosos”, premiado pela Academia Paraibana de Letras, com justiça. “O Terra” é a última crônica do livro de Otávio Sitônio Pinto. Foi aí que, pela primeira vez, eu li uma referência feita ao ilustre paraibano.

Foi jornalista, professor, comentarista esportivo da Rede Globo, uma das vozes do Reporter Esso. Se ainda hoje existem ranços contra os nordestinos, é bom saber que os locutores sulistas, ao invés de influenciar, assimilaram a inflexão erudita do paraibano. Imaginem...

RaimundoYasbeck Asfora, prefaciando o livro “Habitante do Amanha”, descreve o poeta assim: “um cara baixinho – mais baixinho do que magro - que sorria triste e trazia um enorme medalhão de ouro com a esfígie de Jesus sob a camisa desbotada. Um jovem poeta-violeiro, considerado um fenômeno”. Opinião ratificada pela crítica quando lançou “A vida de Buda em versos”. Uma pérola do cordel, saudado como um livro magnífico, comovente e profundo. Então, já era monge budista, este caboclo interplanetário.

Pois bem... A vida me encaminhou para a Taba da Águia, refugio espiritual onde a mãe-terra e os elementos são honrados. Na Roda de Cura, guiada pelo tambor da xamã Yatamalo, muitos foram beneficiados, inclusive minha filha e eu. Marise Dantas, a xamã, mãe de Pedro, Jarã e Samara, me deu os livros do ilustre paraibano de presente e é responsável pelo meu entusiasmo. É que Marise, guardadas as devidas proporções, como uma Yoko nordestina, cuida de manter viva a lembrança do companheiro e pai de seus filhos.

Li o livro “Deixe o coração voar”, uma coletânea de versos como o autor pediu: Sentindo. Vivenciando o clima de amor e liberdade, almejando uma sociedade e mundo mais justo e mais contente. Li em Valencia, Espanha. Madre mia! Da Europa acompanho a preocupação global com o meio ambiente, vivencio o problema da seca em terras espanholas, atos de terrorismo. Os homens continuam violentos, injustos e cada vez mais tristes.

Você foi o fio terra da crônica de Sitônio. É certo que o amor crístico, a verdade búdica da Lei da Impermanência foram esquecidas ou nunca aprendidas. As guerras continuam gerando toda espécie de mazelas. Os desastres ecológicos se amiúdam. Como segurar a lágrima que desce suave ao escutar em terra distante: “Só deixo o meu Cariri / no último pau-de-arara”? Penso no Brasil... Riqueza pura!!! E, no entanto, à mercê de governantes irresponsáveis. Mais do que nunca é imperioso lutar e acreditar. Acreditar para poder lutar.

José Palmeira Guimarães, precisamente trinta e sete anos depois (estamos no ano da graça de 2007, século XXI) eu respondo à convocação feita por você no poema “Manifesto”, publicado no Rio de Janeiro em 1970. Palmeira, com certeza é a Web Divina funcionando...

Você, ator, cantor, pintor, poeta, músico, irmão,
Venha juntar ao meu o seu recado, venha me dar a mão.
Vamos fazer dessa divina herança, um grito de
esperança. Venha me dar a mão!